quarta-feira, 25 de março de 2009

Vice Versa AEI-LIJ-SP Ilustradoras Nireuda e Luna.



Nireuda Longobardi entrevista Luna Vicente

1. Luna, fale um pouco sobre sua trajetória como ilustradora, e qual foi o seu primeiro livro ilustrado?
Comecei a trabalhar com ilustração em 97 para o mercado publicitário, a convite de um diretor de arte que me encomendou várias peças em massinha de modelar para ilustrar um vídeo institucional de um banco. Nessa época eu morava em Curitiba e há muitos anos vinha me dedicando à cerâmica na arte-educação e fazendo miniaturas. Pesquisei sobre ilustradores que usam técnicas tridimensionais e outras diferentes do desenho, da pintura e da gravura e conheci muitas possibilidades. Fiz curso de escultura em papel e oficinas de animação. Criei objetos de cena, cenários e maquetes para vídeo além de ilustrações para mídia impressa. Já o meu primeiro trabalho de ilustração para livro, aconteceu em 2001 para “Cadê Clarisse?”, de Sonia Rosa. Sonia fez história para os três filhos: Clarisse, Rui e Igor, e me deu a honra e a responsabilidade de ilustrar as três. A de Igor estará em breve nas livrarias. Já ilustrei vários livros com massinha e continuo trabalhando nas duas áreas, editorial e publicitária.

2. Além da modelagem, que outras técnicas você desenvolve? Como você começou a fotografar as suas peças?
Crio com técnicas que possibilitam o volume e a tridimensionalidade. Recorte e colagens com papel, tecido, papel machê, assemblage, origami, madeira. Este ano estou retomando à cerâmica, que é a minha paixão, e pretendo trazê-la para o trabalho de ilustração. A fotografia é um namoro antigo... Quando cursei a faculdade era uma das disciplinas, e na época (fins de 80) existia somente a analógica, aprendi inclusive revelação e ampliação. Fiquei tão empolgada que queria transformar o banheiro de serviço do apartamento dos meus pais em laboratório. Eu sempre acompanhei as sessões de fotografia e ainda acompanho esse trabalho (se for executado por outro profissional). Isso me possibilitou conhecer algumas técnicas e querer explorar os recursos da fotografia como linguagem. Fiz cursos de fotografia digital e iluminação em estúdio e adquiri os equipamentos necessários. Atualmente, eu mesma realizo o trabalho fotográfico. Hoje, a fotografia está apenas registrando as cenas, mas tenho outros planos para ela também.

3. É gostoso saber sobre o processo de criação do artista. Como é o seu? O que te inspira na produção de seus personagens?
Quando recebo o texto para ilustrar, leio muitas vezes. Marco palavras e trechos. Identifico a idéia geradora da história e o que é importante ressaltar com imagens. Gosto das entrelinhas, do silêncio, daquilo que não foi dito. Dependendo do texto, busco informações através de pesquisas em várias fontes. Quando preciso de referências visuais, se possível, fotografo. Defino a técnica que utilizarei (se já não estiver previamente definida pelo editor). Quando crio, penso também na fotografia, imagino o clima que posso expressar com a luz, ou como, por exemplo, um enquadramento poderá revelar uma situação. E outras possibilidades. Projeto o livro construindo um boneco onde desenho a lápis as ilustrações, no tamanho que será impresso. Depois de aprovadas, faço um levantamento dos materiais necessários para a confecção das artes e também um estudo das cores que serão usadas. Aí, produzo as artes. No caso da modelagem, se possível confecciono já no tamanho que aparecerá na página. Tenho sempre um estoque de todas as cores de massa de modelar, e compro em embalagens de 500g cada cor. Por último, vem a fotografia. Faço algumas fotos de uma arte e envio para aprovação. Recebendo o ok, fotografo o restante. Muitas pessoas e coisas me inspiram: a criança que eu fui, meus irmãos, meu filho, minhas sobrinhas, as pessoas nas ruas, as que convivem ou conviveram comigo, lugares, sensações. Trabalho ouvindo músicas do mundo e vendo os passarinhos brincarem na água que coloco na varanda pra eles. Uso todos os sentidos para aguçar minhas idéias.

4. Obrigada, Luna! Agora ponha a boca no trombone...
Não vou me estender sobre o assunto, mas quero registrar aqui que estou com os colegas que buscam sempre termos justos para os contratos de utilização das ilustrações que criamos. Somos autores das imagens e não podemos abrir mão dos nossos direitos. Quero reclamar sobre o curtíssimo prazo que muitas editoras impõem para o trabalho de ilustração e sinto na pele quando se trata da técnica de modelagem. É uma técnica que requer além de todo o processo de trabalho de uma técnica bidimensional manual, ainda o trabalho de modelagem e fotografia. Se as editoras têm uma programação anual do que será editado, por que o arrocho? E quero elogiar a atitude de pessoas sempre dispostas a repartir o conhecimento e a experiência que possuem.




Luna Vicente entrevista Nireuda Longobardi

1.Nireuda, além do desenho e da pintura, você trabalha com a xilogravura. O que a levou optar por essa técnica?
Eu sempre gostei muito de desenhar. Na escola, adorava as aulas de Educação Artística; lembro muito do meu primeiro professor de Artes da 5ª série (atual 6º ano) Prof. Wilson. Além de professor, ele era ilustrador de livros infantis e, muitas vezes, ele levava o trabalho que estava desenvolvendo para mostrar aos alunos. Achava tudo aquilo lindo e, ao mesmo tempo, mágico. Era muito bom poder observá-lo desenhando. Essas lembranças estão vivas em minha memória. Quando exponho os originais para as crianças, elas ficam fascinadas. Estudei Desenho Artístico e Publicitário e fiz Educação Artística e Habilitação em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, e foi lá, na aula de gravura, que tive o meu primeiro contato com a xilogravura, com o querido professor Rampazzo. Fui professora de Ed. Artística, Desenho Geométrico e História da Arte. Comecei a ilustrar livros e a me dedicar à xilogravura em 2002, no I Cordel da Cortez, onde conheci xilógrafos e poetas de literatura de cordel, e aí surgiu o convite para ilustrar a primeira capa de cordel com a técnica da xilogravura. A partir de então, não parei mais. A Cortez me convidou a participar do projeto com oficinas de gravura para crianças e este ano será o 7º Cordel da Cortez.

2.Você é uma pessoa bastante preocupada com questões relacionadas ao meio ambiente e especializou-se em Educação Ambiental. Como isso se manifesta no seu trabalho como ilustradora e arte-educadora?
Sempre me preocupei com o meio ambiente. Tenho três filhos, a Danielle, a Gabrielle e o Alexandre. Somos responsáveis pelo nosso planeta e o vejo como uma parte de nós. Temos que nos preocupar com a herança que estamos deixando para os nossos descendentes, o que estamos sentindo na “pele” é muito suave. Precisamos fazer algo para amenizar os efeitos. Existe esperança, pois as crianças de hoje estão crescendo com uma consciência mais ecológica e as escolas estão trabalhando desde o pré com esse enfoque; o caminho realmente é a educação. Foi na sala de aula que surgiu a ideia de desenvolver um livro unindo arte e ecologia e, para me aprofundar, resolvi fazer especialização em Educação Ambiental. Pretendo unir no meu trabalho ecologia, arte e cultura popular. Nas oficinas de arte, utilizo materiais que possam ser reaproveitados, como por exemplo: retalhos de mdf, compensado, madeira de demolição, jornais, revistas, caixas, tecido, garrafas etc.

3.Você tem algum projeto autoral que gostaria de ver concretizado?
Sim, este ano será muito bom. Está no prelo o livro “Mitos e Lendas do Brasil em cordel”, Editora Paulus, com previsão para este semestre. A matriz em xilo que ilustra o Vice-Versa faz parte do livro e a imagem é Mani da “Lenda da Mandioca”. O projeto do livro sobre arte e ecologia foi aprovado, mas, devido à crise está sem previsão de edição. Tenho alguns projetos já finalizados em parceria com a Rosana Rios, o livro “Escolha seu dragão”, e com a Eliana Martins e o César Landucci, o livro “Elos da corrente”.

4.Boca no trombone! Queremos ouvi-la!
Já aconteceu comigo e acho que também com muitos da AEI-LIJ. É uma falta de respeito com o ilustrador quando recebemos o livro pronto e observamos que as ilustrações e até mesmo as cores não estão como na arte original. É preciso que haja um acompanhamento do início ao fim do projeto.
Agradeço à nossa diretora da Regional da AEI-LIJ de São Paulo, Regina Sormani, pelo carinho e pela dedicação.



* Luna, foi ótimo conhecer o seu estúdio, fiquei encantada com seu trabalho, que é riquíssimo e cheio de detalhes. Dentre os livros que você ilustrou, amei a coleção “Conhecendo o Ateliê do Artista”, Editora Moderna; e, por coincidência, notei que um dos livros desta coleção é sobre gravura. Foi então que surgiu a ideia de fazer uma foto, juntando a modelagem, que pertence a este livro, com uma bancada com todos os assessórios necessários para a confecção de uma xilogravura e, ao fundo, uma matriz de xilogravura minha (Mani da lenda da mandioca) que faz parte do livro “Mitos e Lendas do Brasil em cordel”, Editora Paulus, (no prelo). O resultado ficou bem legal.

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